terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Sobre a Performance"Tu tens um medo"

Nossa Performance "Tu tens um medo" é a mais básica e ao mesmo tempo a mais Forte que já fizemos, nela apresentamos  nada-mais nada-menos que um  poema de Cecilia Meireles o “Tu tens um medo”

Iniciamos a apresentação com uma espécie de divindade que entra em cena se contorcendo e apontando o dedo na cara de algumas pessoas da platéia perguntando qual medo essa pessoa tem, a maioria fica assustada por serem pegas de surpresa  e por terem que responder uma pergunta nada fácil em meio á tantas pessoas, porém a maioria que responde, responde a mesma coisa, tem medo da morte, e a morte é a deixa  perfeita para iniciarmos o poema pois não é de outra coisa que ele se trata.



A primeira vez que apresentamos essa performance foi no Sarau Paraisópolis, e foi nada menos que I-N-E-S-Q-U-E-C-I-V-E-L, pois diante da escuridão que pedimos para fazerem no local da apresentação contamos com a ajuda de 4 pessoas segurando lanternas iluminando todas as ações e sem exagerar... foi de ARREPIAR... sem contar que á todo momento deixamos rolando durante todas as apresentações dessa performance a musica REQUIEN in d minor de Mozart, nem um pouco épico né?

Deem uma olhada no vídeo de Apresentação do Sarau de Paraisópolis feito pelo Instituto Criar de TV Cinema e Novas Mídias, nele contém alguns trechos da 1ª e emocionante apresentação de Tu tens um Medo.





Saímos da comodidade e diversidade de eventos que há em Paraisópolis para nos arriscarmos pela primeira vez sozinhos fora das bordas da nossa amada favela, assim... fomos parar em Osasco no Sarau da Educação e Cultura, lá apresentamos pela segunda vez a performance e novamente foi super emocionante, a energia de lá é sem igual, fomos super acolhidos e tornou-se o nosso local favorito para nos apresentarmos, quem tiver a oportunidade de ir nesse sarau não marquem bobeira vale muito á pena.

 


Apresentamos também no Movimento Cultural Cruk que pela primeira vez aconteceu fora do CEU e foi para as ruas de Paraisópolis, a comunidade apareceu em peso, e o CRUK fez um AUÊ daqueles..



.O Movimento Cruck também fez um barulho no CEU e nas Ruas do Feitiço da Vila e nós também estávamos lá, apresentamos Tú tens um Medo dentro de um grande buraco com uma enorme arvore no centro, foi desafiante, pois não tinhamos ensaiado no local, porém a apresentação saiu melhor do que imaginávamos, com escorregões e quedas  que pareciam premeditados, dá um arrepio gostoso só de lembrar.





Poemas da Performance "Lapso da Consciência"


Não sei quem sou, que alma tenho.


Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo.

Sou variamente outro do que um eu que não sei se existe 

(se é esses outros)...


Sinto crenças que não tenho.

Enlevam-me ânsias que repudio.

A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente me ponta

traições de alma a um carácter que talvez eu não tenha,
nem ela julga que eu tenho.
Sinto-me múltiplo.
Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos
que torcem para reflexões falsas
uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas.
Como o panteísta se sente árvore (?) e até a flor,
eu sinto-me vários seres.
Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente,
como se o meu ser participasse de todos os homens,
incompletamente de cada (?),
por uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço.



Não sei quantas almas tenho. 


Cada momento mudei. 

Continuamente me estranho. 

Nunca me vi nem achei. 

De tanto ser, só tenho alma. 

Quem tem alma não tem calma. 
Quem vê é só o que vê, 
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo, 
Torno-me eles e não eu. 
Cada meu sonho ou desejo 
É do que nasce e não meu. 
Sou minha própria paisagem; 
Assisto à minha passagem, 
Diverso, móbil e só, 
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo 
Como páginas, meu ser. 
O que segue não prevendo, 
O que passou a esquecer. 
Noto à margem do que li 
O que julguei que senti.
Releio e digo: "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.



              Sonho. Não sei quem sou neste momento.
            Durmo sentindo-me. Na hora calma
            Meu pensamento esquece o pensamento,

    Minha alma não tem alma.

    Se existo é um erro eu o saber. Se acordo


    Parece que erro. Sinto que não sei.

    Nada quero nem tenho nem recordo.
    Não tenho ser nem lei.

    Lapso da consciência entre ilusões,


    Fantasmas me limitam e me contêm.

    Dorme insciente de alheios corações,
    Coração de ninguém.

    Fernando Pessoa

Sobre a Performance "Lapso da Consciência"

Nossa 2ª performance "Lapso da Consciência" conta com 3 poemas de Fernando Pessoa, nela procuramos trabalhar a loucura com 3 personagens perdidos em si mesmos, para isso pesquisamos e criamos fatos que poderiam te-los levado á loucura, porém nas apresentações mostramos somente o resultado dessas perturbações. 



Boa parte da performance é o estado de loucura e as "não coisas" que eles fazem e como se relacionam entre sí, as vezes os personagens  soltam falas soltas referente ás coisas que os atormentam, mas o publico só os entendem de fato quando ganham voz ao falarem os poemas e em seguida surge o ponto de interrogação...  eles são realmente loucos?



Tivemos como fonte de inspiração o livro de Imagens "LOUCURA" do fotografo Brasileiro Claudio Edinger onde ele retratou a realidade de varios manicômios do Brasil.


FOTOS DO LIVRO



Apresentações  da Performance “ Lapso da Consciência”

Apresentação no Sarau Paraisópolis do mês de...




Apresentação no Movimento Cultural CRUK no CEU Paraisópolis



Apresentação no Movimento Cultural CRUK nas Ruas de Paraisópolis





Apresentação no Movimento Cultural CRUK no CEU Guarapiranga 
(Com participação de Jessica Mota no Violoncelo)






Apresentação (e Instalação sobre a Nossa pesquisa de consumismo) 
no Movimento Cultural CRUK na Galeria Olido






Poema "E agora José"

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio – e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

Carlos Drummond de Andrade

Sobre a Performance "E agora José"


“E agora José”  foi a nossa primeira performance poética, e talvez por ser a primeira á consideramos até então a menos consistente e ousada, mas foi o ponta-pé inicial que nos aproximou da linha de trabalho que realizamos nos dias de hoje.

Criamos para a performance uma atmosfera bem próxima do que se trata o poema que usamos de Carlos Drummond de Andrade e montamos um ambiente minimalista no qual José encontra-se solitário dando vazão aos seus pensamentos, pensamentos esses que retratamos como monstros que há no seu interior e que o impedem de enxergar uma perspectiva positiva de sua vida, assim José torna-se uma marionete de seus receios e inicia uma jornada contra si mesmo

Dessa forma tentamos tratar as crises existenciais, o que queremos, e até que ponto deixamos as nossas incertezas nos amarrar...


Apresentamos a performance 4 vezes, cada uma com um elemento diferente. A primeira foi no Movimento Cultural CRUK no CEU Paraisópolis, onde conseguimos uma salinha vazia e com Giz de Lousa enchemos as paredes com desenhos feios e trechos do poema,  espalhamos por todos os lados cadeiras quebradas e objetos variados , deixamos as luzes apagadas e enchemos a sala de pessoas, o desafio era encenar nesse pequeno espaço fechado, com pouca luz e cheio de gente. e não é que conseguimos? claro que tropeçávamos e nos jogávamos (algumas vezes de propósito) em cima do povo. Repetimos tudo 3 vezes durante o Movimento dividindo o público em grupos para que todos pudessem assistir.




A Segunda vez foi no Sarau Paraisópolis no Mes de ... onde contamos com a participação da Sirleide Costa que ficou responsavel pela sonoridade da performasse,  Fazendo com um Bumbo o Pulsar do Coração do José, tinha momento em que ela  acelerava a batida  deixando a atmosfera super tensa, Foi muito legal.




No Mês seguinte como o tema do sarau de Paraisópolis era ... e o poema "Agora josé"era indispensável voltamos á apresentá-lo só que dessa vez contamos com uma fofa introdução  feita por 3 garotas do curso de Teatro do programa Einstein (local onde sempre acontece o Sarau).




a ultima vez que apresentamos foi numa edição do Movimento Cruk nas Ruas de Guarapiranga, levamos os moradores que estavam prestigiando o movimento até um beco, e durante o percusso soltávamos trechos do poema, quando chegamos encenávamos o restante da performance.